terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Algumas palavras estão muito desgastadas. E eu culpo a Xuxa, pois ela trouxe o verbo amar pra banalidade. Quando eu tinha meus dozeanos e ela estava em alta, o auditório gritava “Xuxa, eu te amo!” A partir daí, todo mundo ama todo mundo, chama todo mundo de “amor”, “amada” e então aprendi que nada mais é apenas ruim, não se desgosta de alguma coisa hoje. A gente “odeia”. Você não diz “Eu não gosto de quiabo“. Diz-se “Odeio quiabo“. E quando cumprimentamos virtual e publicamente alguém que não vemos desde o jardim de infância e que se não vissemos nunca mais, nem mesmo lembraríamos que existia, dizemos: “Oi fulana, saudades!” Saudade é o caralho de asa. Quando a gente está relativamente perto de alguém, perto o bastante para um almoço no próximo mês e não realizamos esse encontro, isso não é saudade. A gente poderia dizer: “Oi fulana, se der, um dia a gente se esbarra por aí e coloca o assunto em dia (e se não rolar, não vai fazer muita diferença).” E quando dizem que a gente vai um dia sentir aquela “saudade gostosa”. Isso não existe. A gente pode ter uma lembrança agradável, engraçada, delicinha até, mas “saudade gostosa” não tem. Saudade doi. Não se resolve, é frustrante, desgastante, inútil, improdutiva e dolorosa. Dizem que só em português existe essa palavra, mas acho que o que usa em inglês por exemplo é muito mais indicado nas situações cotidianas: “Oi fulana, I miss you“. Eu sinto falta de você. Mas saudade em si, não tem graça.

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